Temos ideias equivocadas a respeito de muitas coisas,
inclusive a respeito da santidade. Cito algumas:
– Ou santo ou nada, quando mal entendido;
– Ser santo é fazer grandes coisas, como milagres;
– Para ser santo basta rezar muito;
– Há só uma maneira de ser santo.
A ideia de “Ou santo ou nada” precisa ser bem explicada.
Não se pode exigir de um iniciante na caminhada cristã as
mesmas atitudes de quem já cresceu bastante nos caminhos
de Deus. Para mudar de vida, o iniciante passa por uma fase
delicada, num processo lento em que os passos também devem ser lentos, e as leis e solicitações, feitas uma de cada vez.
Cresce-se aos poucos, conforme a pedagogia de Jesus, que
respeita as etapas de crescimento e a compreensão pessoal de
cada um.
A vida é um processo que se desenvolve aos poucos e
requer paciência e dedicação. Assim funciona também a vida
espiritual, em que a perfeição é a meta final de um processo de
crescimento contínuo. Cobrar a perfeição de imediato é inútil e
perigoso, pois produz um sentimento de culpa que, em alguns
casos, pode permanecer pela vida toda, fazendo a pessoa sofrer
ou levando-a a desistir de alcançar a santidade.
Não é verdadeira a ideia de que “a santidade consiste em
operar grandes coisas”, realizar milagres e grandes penitências.
Alguns cristãos optam por fazer penitências e mortificações,
como, por exemplo, Pe. Rodolfo Komorek, um salesiano
polonês que viveu no Brasil e aqui morreu com fama de homem santo. Mas ele mesmo dizia que “a santidade se faz de
uma multidão de pequenos atos”. Esse homem fazia grandes
penitências e mortificações, mas era alegre e amigo de todos,
muito bondoso e educado, por isso era santo.
Existem muitas maneiras de se ser santo. Achar que há
apenas uma, um único caminho para chegar à santidade é uma
ideia falsa, pois exclui o outro e as mil inspirações do Espírito
Santo na vida das pessoas. A proposta de Jesus sempre respeitou a liberdade. Já os fariseus, que nunca aceitaram o Messias,
tinham um outro modo de pensar, achavam que eram os únicos
a agir e orar de modo agradável a Deus, excluindo assim os
que não eram como eles até mesmo Jesus.
Não é santo quem apenas reza, vive isolado, sem se envolver com o próximo, com o reino de Deus. Todos os santos
foram homens e mulheres iguais aos outros, pessoas normais,
cheias de caridade, mas com as suas particularidades que as
tornaram santas.
Ser santo é como produzir uma obra de arte; o artista
leva um longo tempo trabalhando, com muita paciência,
para aperfeiçoar a sua obra. Não importa o tempo gasto para
alcançar o objetivo, o importante é alcançá-lo. Tudo o que é
grandioso se faz aos poucos. É preciso esperar. O crescimento
vem de dentro. “Não é puxando que a planta cresce”, como
ensina sabiamente um provérbio alemão.
A santidade acontece no dia a dia de cada cristão. Se
alguém é religioso e mora no convento, vive a santidade na
prática exata das normas dos votos, da vida em comum, no
trabalho pastoral e no trabalho manual ou intelectual. Para um
pai ou mãe de família, a perfeição da santidade está dentro de
casa, na família, no modo de educar os filhos, de amar a esposa
ou o marido. A casa será para o casal uma igreja doméstica, um
lugar santo. Muitos homens e mulheres, pais e mães, alcançaram a santidade desse modo.
Portanto, sempre existiram, e ainda existem, pessoas que
optaram pela beleza de um projeto de vida e não quiseram
ser cristãos “mais ou menos”, pessoas medíocres. Elas vivem
com seriedade a vida cristã, experimentam as fraquezas e até
o desânimo, porém, por não se conformarem com a situação,
lutam e vencem.
O que mobiliza muitas pessoas a buscarem a santidade é
o encantamento especial que Jesus de Nazaré sempre exerceu
em todos aqueles que o conheceram. Quem conhece Jesus de
perto se encanta e decide viver como Ele, apaixonado por Deus
e cheio de compaixão pelos homens. Aceita fazer a vontade do
Pai, ouve a profecia de Isaías que Jesus aplicou a si: “O espírito
do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu.
Enviou-me para levar a boa nova aos pobres, para curar os de
coração aflito, anunciar aos cativos a libertação, aos prisioneiros
o alvará de soltura” (Is 61,1). Muitos viveram e ainda vivem
esse ideal, assim como Cristo. Foi uma missão apresentada a
Ele pelo Pai, causadora de muitos sofrimentos. A narrativa da
Paixão revela que por defender os pobres, por ensinar e querer
fazer acontecer a verdade e a dignidade do homem como Filho
de Deus, Cristo foi condenado e morto.
Pe. Mário Bonatti
Visitem padrerodolfokomorek.blogspot.com e ajudem-nos a divulgar a vida deste santo sacerdote. Deus os abençoe!
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