A castidade é chamada por S. Pedro Damião "Rainha
das virtudes". Quem triunfa do vício contrário à castidade,
facilmente triunfa de todos os outros; pelo contrário, quem
se deixa dominar da impureza, com facilidade escorre
ga em muitos outros, como são o ódio, a injustiça, o sacrilégio etc.
A castidade faz do homem um anjo.
comparados aos anjos, que vivem estranhos a todos
os prazeres da carne. São os anjos puros de sua
natureza; os homens são-no por virtude. Segundo
Cassiano, esta virtude iguala o homem ao anjo. Na
opinião de S. Bernardo, é só a felicidade e não
a virtude que distingue o anjo do homem casto;
e acrescenta, — se a castidade do anjo é mais feliz,
a do homem é mais gloriosa. S. Basílio vai mais
longe, dizendo que a castidade torna o homem
semelhante ao próprio Deus, que é um espírito puro.
"É sempre perigosa a afeição carnal, mas mais
perniciosa quando tem por objeto uma pessoa
devota; podem os começos ser inocentes, mas
a familiaridade é um perigo de todos instantes;
na medida em que essa familiaridade vai aume-
ntando, enfraquece-se a pureza do motivo prin
cipal, que lhe tinha dado origem". Acresce que
o demônio sabe muito bem esconder o perigo:
a princípio não arremessas flechas que pareçam en-
venenadas, mas que avivem a afeição, fazendo
no coração pequenas feridas;pouco depois essas pes-
soas assim dispostas já não procedem entre si
como anjos, como a princípio, mas como seres
revestidos de carne; não são imodestos os olhares,
mas mais freqüentes de parte a parte; as palavras
parecem espirituais, mas são demasiado ternas;
depois desejam encontrar-se muitas vezes. E é
assim, conclui o santo Doutor, que o apego espiritual se
torna carnal. Aponta S. Boaventura cinco sinais pelos quais
se pode reconhecer quando é que a afeição de espiritual se
torna carnal:
1.º - Quando há entretenimentos longos e inúteis; e,
desde que são longos, são sempre inúteis.
2.º - Quando há olhares e elogios recíprocos.3.º - Quando um desculpa os defeitos do outro.4.º - Quando se deixam perceber pequeninos ciúmes.5. º - Quando o afastamento causa inquietação.
Tremamos; somos de carne. O bem-aventurado Jurdano
repreendeu fortemente um dia um dos seus religiosos,
por ter dado a mão a uma mulher, ainda que sem má
intenção; e, tendo-lhe o religioso observado que era
uma pessoa virtuosa, respondeu-lhe: "A chuva é boa
e a terra também, mas misturadas fazem lama". Esta
mulher é santa e este homem é santo; mas, se se põem
na ocasião, ambos se perdem. "Choca o forte com o forte
e ambos caem". É sabido o caso funesto de que fala a
História eclesiástica. Uma santa mulher, que tinha o
costume de recolher os cadáveres dos santos mártires,
para lhes dar sepultura, encontrou certo dia um, que tinham
deixado por morto, mas que ainda conservava alguma
vida. Fê-lo transportar para sua casa, onde lhe restituiu
a saúde, à custa dos seus cuidados; mas que aco-
nteceu? A convivência fez-lhes perder a castidade e a
graça de Deus.
Vimos acima quanto é necessário, para conservar a castidade,
fugir à ocasião e à ociosidade; vejamos agora o que importa
fazer. Em primeiro lugar, deve-se praticar a mortificação dos
sentidos. É uma ilusão, diz S. Jerônimo, tentar viver no meio
dos prazeres, sem cair nos vícios a que eles dão origem.
Quando o Apóstolo era atormentado pelo aguilhão da carne,
encontrava auxílio e remédio nas mortificasses do corpo:
Castigo o meu corpo e faço dele um escravo. A carne que
não é mortificada só dificilmente se sujeita ao espírito. Conserva-se
a castidade no meio das mortificasses, como um lírio no meio
dos espinhos.
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